quinta-feira, 7 de abril de 2011

Caminhando...

Hoje foi um dia estranho. muito cansativo, mas fiz pouca coisa. a melhor parte do dia foi voltar (a pé) para casa. e aqui em Santos deu 20h, as pessoas TÊM que sair de casa para caminhar. e nesse meu "passeio" fui ouvindo música, claro, e olhando ao meu redor. é engraçado como à noite o mar parece um breu só, praticamente um abismo, e é uma grande desvantagem que, por causa dos carros, não consigamos ouvir o barulho das ondas na praia. eu acho que é um espetáculo as luzes dos navios (que não podem se encaminhar para o porto e ficam ao longe à deriva) no horizonte, elas dão a ilusão de que se tratam de cidades. como se não fosse o mar, mas um lago e quando pegássemos uma barca para nos dirigirmos à outra margem chegaríamos a uma vila ribeirinha, onde todos se conhecem, todas as luzes estão acesas, pois todas as noites as pessoas que ali residem se reunem para conversar, ficar de olho nas crianças que brincam, contar histórias da mãe d'água, do boto, saci pererê e assim por diante. em especial, uma mulher está à frente de seu casebre, com uma blusa vermelha de cetim com flores e uma saia preta, olhando o que se passa na frente de sua casa, enquanto espera a comida que ela prepara no fogão ficar pronta. ela lembra o seu cansativo dia de trabalho e pensa o que ainda espera naquele dia: servir a comida, lavar a louça, colocar os filhos para dormir e depois poder se deitar ao lado do marido e por fim descansar. nesse momento ela vê seu pai, já velho, contando as mesmas histórias para as crianças, que têm seus olhos vidrados no velho que lhes narra uma fábula. a mulher percebe que a comida já está pronta, ela desliga o fogo e ao invés de preparar a mesa de jantar, ela se senta lá fora para ouvir atentamente seu pai, junto das crianças. nesse momento ela olha para o lago e imagina como seria se ao invés de um lago, ali ficasse o mar. ela logo se arrepende da ideia, pois não teria mais a possibilidade de ver à noite as luzes do outro lado do lago, que indicam a presença de outras pessoas e que apesar de estarem longe, parece que ela as conhece, pois afinal, todas as noites ela observa sua existência, evidenciada pelas luzes.

Um comentário:

  1. Que lindo Matheus. Eu pensei na palavra "poética" quando li, no sentido 'a poética de' e tal. Lindo.

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